18 de maio de 2011

SOMBRISTA - artista das sombras

Texto originariamente elaborado para a ABrIC – Associação Brasileira de Iluminação Cênica para encaminhamento ao Ministério do Trabalho e o SATED Nacional e apreciação para possível aprovação nas categorias profissionais de técnicos em iluminação.


SOMBRISTA
CATEGORIA PROFISSIONAL

Descrição sumária
São profissionais que pesquisam, criam, idealizam, projetam, constroem, montam, atuam, operam e elaboram cenas dramáticas através da utilização das luzes e sombras projetadas. Lidam com diferentes matérias-primas e tecnologias, exigindo conhecimentos e habilidades manuais para a criação de objetos cênicos e na elaboração de soluções técnicas para o seu funcionamento na cena. O resultado conceitual, criativo e técnico pode ter diferentes finalidades artísticas, suportes e públicos, podendo ter suas projeções de sombras e luzes aplicadas como linguagem expressiva e dramática no teatro, show musical, apresentação de dança, eventos corporativos, desfiles de moda, televisão, vídeo, cinema e outras vertentes audiovisuais e cênicas. É uma função de alta capacitação artística por estar relacionada com as mais diferentes áreas das artes, exigindo conhecimentos de artes cênicas, gráficas, plásticas, cinematográficas, fotográficas, e conhecimentos técnicos nas áreas da elétrica, ótica, cenografia, dentre outros aspectos de interesse artístico. Por sua complexidade conceitual e técnica, provoca pesquisas que permitem o diálogo com outras vertentes em diferentes formatos. A principal peculiaridade dessa função é o rigor técnico com relação aos conceitos aplicados à sua prática, exigindo a sensibilidade e o talento para atuar, operar luzes e editar imagens ao vivo, simultaneamente, durante a cena. Diferentemente de um iluminador teatral, o sombrista acumula além dos conhecimentos básicos da iluminação cênica as funções de técnico, ator, diretor, cenógrafo, coreógrafo, roteirista, cenotécnico e artista gráfico para utilizar ao máximo a sua potencialidade expressiva. No que se refere aos aparatos de iluminação, o sombrista tem a tarefa de pesquisar suas fontes luminosas, efeitos especiais e ferramentas, apropriando-se das tecnologias para desenvolver suas obras de arte. O sombrista precisa ter conhecimentos sobre a arquitetura cênica e a iluminação básica para dialogar com clareza e precisão na sua relação profissional com outros técnicos e artistas durante as pesquisas, produções, projetos, montagens, execuções ou criações coletivas.


Formação e experiência
O exercício pleno dessa função requer, preferencialmente, um ensino escolar qualificado e adequado às perspectivas de trabalho desejado. O ensino médio e variados cursos técnicos em diferentes áreas das artes, colaboram para o avanço nas pesquisas mais complexas, nos intercâmbios com outros artistas, como reforço e aprimoramento conceitual na formação autodidata. Esse tipo de formação pode ser casual, sistemática, formal ou informal, desde que a qualidade no desempenho dessa atividade passe pela experiência de participar, com desenvoltura, de pesquisas próprias ou de terceiros, buscando referências e descobertas no campo das tecnologias de iluminação, das linguagens e da capacidade de criação individual e coletiva. Em geral, as diferentes experiências com as criações e produções de espetáculos colaboram definitivamente para a formação dos sombristas, porém mais importante que o número de produções, é a intensidade com que esse artista se envolve. É o aprofundamento nos diferentes conhecimentos sobre o nero que determinam a aptidão e a competência do sombrista em exercer plenamente o seu ofício no mercado da arte.




Condições gerais de exercício
No Brasil, de um modo geral, trabalham em atividades culturais, corporativas e de entretenimento, como solistas, em grupos ou companhias teatrais ou ainda em produtoras culturais. A remuneração é efetuada através de cachê, cotas, como sócio da produção ou por recebimento de pagamento espontâneo (como no caso do artista de rua, “que passa o chapéu”) ou ainda por meio de direito autoral sobre as suas obras. O trabalho de pesquisa é desenvolvido sozinho ou em pequenos grupos, de forma autodidata ou com assessorias específicas e as produções são em equipe, com autonomia criativa ou com a supervisão de outros artistas, nos mais diversos ambientes, em horários irregulares. Como é comum nas atividades ligadas ao entretenimento, o exercício requer disponibilidade para permanecer por longas horas nas montagens e na preparação de equipamentos, cenários e aparatos, a carregar cargas pesadas, bem como estar exposto aos efeitos de ruído intenso, ambientes com pouca luminosidade, grandes alturas e sujeitos a pressões por cumprimento de prazos. No gênero do teatro de animação ou formas animadas o sombrista é comparado ao ator bonequeiro, um marionetista ou ventríloquo, e geralmente é considerado um ator, neste caso, ator-manipulador, ou ainda ator-animador. Ainda não existe a formalização de uma categoria adequada na legislação trabalhista e no regimento do SATED que classifique o ator do teatro de formas animadas.


Texto criado para ampliar o entendimento técnico do profissional atuante no teatro de sombras na Cia Teatro Lumbra de Animação

Os diferentes níveis técnicos do sombrista

01-Sombrista Avançado ou Profissional
Desenvolve plenamente, de forma sistemática e polivalente todas as suas capacidades sensíveis, físicas, práticas e filosóficas com profundidade, método processual, interdisciplinaridade, estudo, pesquisa, intercâmbio, difusão e disciplina. Engloba todas as demais categorias abaixo em nível avançado. Possui interesse experimental e habilidades plenamente aptas a criar, dirigir, produzir, assessorar, ensinar e administrar espetáculos, obras e atividades formativas na arte das sombras de modo comercial ou filantrópico. Sua capacidade mais qualificada é o domínio da dramaturgia unida à capacidade criativa e técnica.

02-Sombrista Criativo
Exercita seus conceitos, experimentalismos e atividades genéricas sem um processo ou estilo definido. Pode estar associado ou não a outros artistas visando desenvolver suas habilidades artísticas para diferentes fins. Suas experiências podem indicar caminhos para pesquisas mais complexas e um nível profissional.

03-Sombrista Intérprete
Seu talento mais aprimorado é como ator que usa plenamente sua experiência corporal sensível em prol da cena dramática. Por falta de interesse, conhecimento ou habilidade, geralmente não se envolve nos demais processos ou tem pouca compreensão de detalhes importantes envolvidos na criação, produção e manutenção da obra em que atua. Dependendo de suas capacidades técnicas de atuação, experimentalismo e improvisação o ator de teatro de sombras é capaz de atuar, empiricamente como assessor direto do diretor, colaborando e criando soluções dramáticas, novas possibilidades experimentais e correções durante o processo dos ensaios.

04-Sombrista Técnico
É envolvido com um ou mais níveis no processo de criação e construção do espetáculo podendo se especializar em tarefas de desenho, cenotécnica, efeitos especiais, eletrotécnica dentre outras atividades de produção. Geralmente não possui habilidades para a interpretação. Dependendo da sensibilidade artística, pode realizar figuração ou contra-regragem durante uma cena ou espetáculo. Sua qualidade se aprimora quando participa de todos os processos de criação, pré-produção, produção e correções da obra.





05-Sombrista Intelectual
Dedica-se a pensar a teoria de estilos, processos, obras e a história da arte. Dentre suas colaborações e ações está a de apreciar obras e registros sobre o assunto, difundir e formar conceitos, refletir sobre práticas, fazer circular informações e colaborar no registro do histórico desse gênero. Pode ser autodidata ou acadêmico.

06-Sombrista Curioso
Seu interesse em descobrir como se faz é sua principal colaboração. Costuma consumir informações sobre o assunto e sua dedicação e entusiasmo pode levar a descobertas e resultados muito interessantes. Geralmente suas experiências não possuem muito investimento na continuidade e na profundidade dos resultados, caracterizado por um estilo, uma estética e uma dramaturgia amadora.



Qualidades e habilidades desejadas no sombrista profissional


·  Talento e originalidade criativa bem desenvolvidos;
·  Curiosidade e disponibilidade para o aprofundamento de temas de interesse particular, coletivo ou de terceiros;
·  Conhecimentos gerais sobre arte e literatura, estilos, tendências e referências conceituais;
·  Vivências e experiências com a estética da natureza, da criação e das obras artísticas;
·  Sensibilidade para apreciar, discutir, interpretar, questionar e criticar diferentes formas de arte, clássicas ou modernas;
·  Habilidades manuais e conhecimentos sobre o uso de ferramentas, materiais e tecnologias;
·  Conhecimentos técnicos e disponibilidade para estudar a teoria e desenvolver a prática no desenho, escultura, atuação, design, cinema, roteiro dramático, marcenaria, elétrica, física mecânica, cenotécnica, cenografia, segurança no trabalho, produção executiva, informática, música, pintura, poesia e outras atividades ligadas às artes, à administração e à gestão de negócios;
·  Traço desenvolvido para o desenho livre e arquitetônico;
·  Memória e concentração;
·  Clareza teórica e organização processual;
·  Raciocínio lógico e intuição;
·  Comunicação clara e domínio de termos técnicos;
·  Capacidades empreendedoras de marketing pessoal e organização;
·  Capacidade de ensinar;
·  Capacidade produtiva e de exteriorizar suas conquistas;
·  Aplicação hábil das diferentes qualidades de energia do corpo;
·  Compreensão mínima de biomecânica do corpo e aspectos preventivos de lesões corporais;
·  Conhecimentos mínimos de aspectos coreográficos (desenho do movimento) e coreológicos (lógica e ordenação do movimento).

Texto de Alexandre Fávero (Cia Teatro Lumbra e Clube da Sombra Produções) e colaboração de Paulo Balardim (Cia Caixa do Elefante e UDESC).

3 comentários:

  1. Também digo ufa! Mas tá show: sistemático, abrangente e exaustivo (no bom sentido). Intensificaria um pouco mais a importante interrelação com música e ritmo na descrição inicial.

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  2. A complexidade da arte é quase sempre fragmentada. Uma das propostas dessa pesquisa é apresentar um panorama do ofício e suas variantes. Isso exige constante investigação de referências, práticas e muita reflexão. Um bom começo é se identificar com algumas dessas categorias e a partir daí, acrescentar experiências pessoais para colaborar na compreensão da identidade do sombrista em suas mais diferentes relações com o mercado formal da arte.

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