26 de julho de 2011

Fragmento do artigo - Antropofagia e hibridismo no teatro de animação brasileiro

Parte do artigo de Fábio Henrique Nunes Medeiros, da Universidade de São Paulo - USP, publicado na Revista Móin-Móin - Revista de Estudos sobre Teatro de Formas Animadas - Volume 07 - ano 6 - "Cenários da Criação no Teatro de Formas Animadas". Publicação editada pela Sociedade Cultura Artística de Jaraguá do Sul  (SCAR) e a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)


Dois espetáculos que dialogam com a cultura popular  regional – Antropofagia cultural

Babau ou a Vida Desembestada do Homem que Tentou Engabelar a Morte, de 2006 - Mão Molenga teatro de bonecos, (4) de Pernambuco e A Salamanca do Jarau, de 2007 - Cia Teatro Lumbra (5) – RS, são dois espetáculos diferentes enquanto linguagens, pois um utiliza elementos tradicionais do teatro de animação, como o próprio boneco de vara e luva; e o outro, com a linguagem do teatro de sombras, utiliza silhuetas com vários recursos, e além disso o corpo do ator.  Mesmo os dois sendo teatro de animação, as características são bem diferentes enquanto técnica e estética da linguagem, o que revela como é múltipla essa arte. Mas, as abordagens são irmãs (elo entre as duas propostas) – a cultura popular regional, para serem apresentados em sala de teatro, ou seja, recodificam práticas discretas e específicas para outros espaços e geram uma nova forma.
(4)Fundado em 1986 por Fábio Caio, Fátima Caio, Marcondes Lima e Carla Denise. 
(5)Criado em 2000 e coordenado por Alexandre Fávero, atualmente conta com a equipe deFlávio Silveira, Roger Mothcy e Fabiana Bigarella.


Foto: Chan


(...)


Já na concepção e montagem do espetáculo A Salamanca do Jarau da Cia. Teatro Lumbra do Rio Grande do Sul, também com base na tradição popular, o recorte, procedimentos e linguagem são diferentes. 
O espetáculo dá continuidade à temática da cultura popular brasileira, dessa vez especificamente gaúcha, e também à investigação ao teatro de sombras.
O projeto da montagem é inspirado no conto homônimo de João Simões Lopes Neto (7), que conta as “origens” do povo gaúcho. 
No entanto, a encenação vai além do mesmo, pois sua estrutura é recheada de elementos da cultura popular, prosa, lenda, expressões regionais e andanças do grupo durante o resgate da tradição gaúcha no circuito onde a trama foi ambientada.




O gaúcho pobre Blau Nunes se encontra com o guardião da gruta do Cerro do Jarau, que lhe convida a passar por sete provas em troca de riquezas. Após, encontra-se com a princesa moura, a teiniaguá encantada pelo diabo indígena Anhangá-Pitã, a qual lhe oferece riquezas. Blau nega e pede seu amor em troca, mas não é atendido [...] Ao sair da gruta, recebe do guardião um amuleto com o qual faz fortuna, porém é difamado e isolado. Arrependido, Blau devolve o talismã e com isso liberta o sacristão e a teiniaguá, que formam um “casal que dará origem ao povo gaúcho (GRUPO – SITE: 2010).


A história A Salamanca do Jarau (8), bem como todas as estruturas dos contos maravilhosos europeus, traz personagens arquetípicos e fórmulas consagradas, como: princesa, fada, bruxa, guardião, amuleto, diabo, magos, saga heroica em nome do amor, conflito por quebrar o encantamento – magia, dicotomia entre bem e mal, e ao mesmo tempo, a mestiçagem de personagens como: Caipora, Diabo indígena... É um sinal evidente da antropofagia na trama da peça.

No percurso da pesquisa para montagem do espetáculo passaram historiadores acadêmicos, além de conhecedores da sabedoria popular. Esse procedimento dá vida e atualiza a história, pois a sabedoria popular é guardiã de conhecimentos intocáveis, devido ao seu poder de maleabilidade e transformação. Seus contadores estão vivos. 
(7)Escritor pelotense - RS. “Nos seus contos regionais falou da condição do negro, em O Negro Bonifácio e O Negrinho do Pastoreio.”(FÁVERO, 2003). 
(8)A transposição e criação das cenas a partir do conto é realizado por Alexandre Fávero, diretor geral do projeto.


Foto: Alexandre Fávero

Da história ao atracamento na encenação, o processo passa por uma tradução/traição de uma história basicamente oral (verbal) para a linguagem das sombras (imagética), o que demonstra um processo de conversão de signos e ao mesmo tempo perda e mutação dos mesmos. O grupo tem pleno domínio e consciência disso, como expresso por eles quando dizem que o espetáculo está fundamentado na experiência e pesquisa do universo das sombras, além da cultura gaúcha.

O teatro de sombras é uma linguagem que transforma tudo em dramaturgia: o movimento, a imagem, o som. Dessa forma, o contexto da história está ambientalizado com imagens das paisagens dos pampas, igrejas e grutas em várias escalas de tamanhos. O som resgata a atmosfera mestiça do ritmo do lugar, bem como o período de colonização, que se configura por influências espanholas, portuguesas, indígenas, além da criação da atmosfera mágica – característica da linguagem do teatro de sombras.
Foto: Alexandre Fávero

Muitos são os desdobramentos estéticos da linguagem do teatro de sombras pela Cia de Teatro Lumbra, sendo que, nessa arte, técnica e estética estão imbricadas: a dinâmica da manipulação do foco de luz e metalinguagem; silhuetas confeccionadas, de objetos e corporais; vários suportes de telas que também se movimentam; criação do aparato técnico (luz); ocupação espacial quase completamente preenchida, inclusive o fundo do palco; multiplicidade 
e cores de luz e dos outros elementos; subversão dos planos de luz e sombras que se deslocam, com isso, também altera o espaço de projeção; uso de recursos e elementos alternativos como água, fumaça, entre tantos outros; paradoxo entre ausência e presença do ator-manipulador-personagem; entre outros. “É esse aparato cenotécnico que permite a construção e desconstrução dos signos teatrais e da leitura audiovisual, durante todo o espetáculo, dando 
uma impressão surrealista dos signos” (FÁVERO, 2003).

É importante sublinhar que nesta linguagem teatral, a preparação do ator/sombrista é fundamental devido a uma série de fatores, mas destaca-se o deslocamento espacial no escuro da cena e por trás dela. 
O espetáculo cria um panorama, um cartão postal do povo gaúcho na sua construção, a partir da percepção popular, revelando o hibridismo étnico e cultural desse povo, e também da própria linguagem do teatro de sombras que se recodifica em misturas técnicas e estéticas.

Tanto os personagens Babau como Blau Nunes são representações em síntese de identidades sociais. Eles são resguardados e protegidos pela tradição, como uma espécie de museus da memória coletiva, tão viva quanto o povo e a capacidade de perpetuação pela interação comunicativa.


Foto: Alexandre Fávero

Considerações
A antropofagia como paródia da cultura, “especificamente no teatro, é usada no sentido da deglutição onde o novo texto [verbal ou não-verbal] traduz a cultura, tritura a tradição re-interpretandoa” (GARDIN, 1995: 185). É o terreno mais fértil para a mistura cultural e mesmo de linguagens, como resultante de uma diligente experiência técnica e estética, além de transformar o “canibal” num potencial artístico, numa qualidade estética.
Na arte contemporânea, há uma revisitação constante. Ela não procura romper com o passado, mas ao contrário, ela dá novos significados, procurando trazer referências históricas para o presente adequando-as ao nosso tempo, além de trazer também referências de outros segmentos.
Ser híbrido, misturado, contaminado, mestiço, polifônico, intertextual, imbricado, inter e multifacetado, lembra algumas palavras de pensadores e poetas, como Roland Barthes (2002: 8) quando diz:

“Então o velho mito bíblico se inverte, a confusão das línguas não é mais uma punição, o sujeito chega à fruição pela coabitação das linguagens, que trabalham lado a lado: o texto de prazer é Babel feliz”. Ou seja, texto é tessitura. Já na voz do poeta Lindolf Bell, ouvido ao pé da orelha, “O ser humano não é ilha, mas partilha”. É nesta perspectiva que as poéticas desses grupos e outros se arquitetam, construindo-se a partir da tessitura das linguagens. O teatro está repleto de imagens emergentes, ou seja, que 
emanam sentido. Isso é particularmente visível nos espetáculos de teatro de animação. Sua poesia transcende a palavra, bem como a imagem está encarnada de palavras, assim como o inverso. O teatro contemporâneo materializa o mito da Babel, invertido. É quando, conforme Roland Barthes (2002), a estética vive na coexistência de várias linguagens simultâneas. Assim se faz a têmpera do teatro de animação, mesclando-se constantemente.


Fábio Henrique Nunes Medeiros é diretor teatral e bonequeiro, pesquisa Teatro de Formas Animadas. Doutorando em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo - USP e Mestre em Teatro pela Universidade de Santa Catarina – UDESC (2009). Especialista em História da Arte Brasileira pela Faculdade de Artes do Paraná – FAP. fabiodeolinda@yahoo.com.br


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Oswald de. Manifesto Antropofágico.  In: Revista de Antropofagia. São Paulo: São Paulo: CLY ― Cia. Lithographica Ypiranga, ano 1, n. 1, maio de 1928.
BARTHES, Roland. O prazer do texto. 3ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2002.
CANCLINI, Nestor G. Culturas Híbridas. 4ª ed. São Paulo: Edusp, 2008.
DENISE, Carla. Mão Molenga teatro de bonecos. Disponível em:                                            <http://www.bonecosdepernambuco.com>. Acesso em: 24 de maio de 2010. 
FÁVERO, Alexandre. Relato de concepção, 2003. Disponível em:                                           
<http://www.clubedasombra.com.br/salamanca/concepcao.htm>. Acesso em: 30 de maio 2010.
GARDIN, Carlos. O Teatro Antropofágico de Oswald de Andrade: da ação teatral ao teatro de ação. São Paulo: Annablume, 1995.
MALAFAIA, Marcos. Entrevista concedida a Fábio Henrique Nunes Medeiros. Belo Horizonte, 29 de out. de 2008. Entrevista.
MEDEIROS, Fábio H. N.  Fronteiras invisíveis e territórios movediços entre o teatro de animação contemporâneo e as artes visuais: a voz do pincel de Álvaro Apocalypse.  2008, 194 p. Dissertação (Mestrado em Teatro) – Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Florianópolis: 2009.
PAVIS, Patrice. O Teatro no Cruzamento de Culturas. São Paulo: 
Perspectiva, 2008.
VELLINHO, Miguel. Ação! Aproximações entre a linguagem cinematográfica e o teatro de animação. In: Móin Móin - Revista de Estudos Sobre Teatro de Formas Animadas. Jaraguá do Sul/SC, n. 1, v.1. p.167-186, 2005.
Outras fontes de consultas - sites dos grupos:
http://www.pequod.com.br
http://www.giramundo.org
http://www.clubedasombra.com.br



Móin – Móin: Revista de Estudos sobre Teatro de Formas 
Animadas. Jaraguá do Sul: SCAR/UDESC, 
ano 6, v. 7, 2010.  ISSN 1809-1385
M712
Periodicidade anual
1.Teatro de bonecos. 2. Teatro de máscaras. 3. Teatro de fantoches
CDD 792


Para ler esse artigo na íntegra: http://www.ceart.udesc.br/ppgt/revista_moin_moin_7.pdf

Móin-Móin é uma publicação conjunta da Sociedade Cultura Artística de Jaraguá do Sul - SCAR e do Programa de Pós-Graduação em Teatro (Mestrado) da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. As opiniões expressas nos artigos são de inteira responsabilidade dos autores. A publicação de artigos, fotos e desenhos foi autorizada pelos responsáveis ou seus representantes.  
Editores: Gilmar Antônio Moretti – SCAR e Prof. Dr. Valmor Nini Beltrame – UDESC











Coordenação editorial: Carlos Henrique Schroeder (Design Editora)
Estudantes bolsistas: Gabriela Morales Tolentino Leite, Isadora Santos Peruch e Rhaisa Muniz
Criação, vendas e distribuição: Design Editora
Revisão: Marcos Leptretinf
Diagramação: Beatriz Sasse
Impressão: Gráfica Nova Letra








Ensinamentos de Magda Modesto

A sombra é tão comum que não nos detemos a ponderar  sobre a mesma – como o fato de ser bidimensional e ser  a única coisa não-material que é visível. Por essa razão,  compartilha características tanto com o mundo material  quanto com o mundo invisível. É daí que surge o fenômeno 
da SOMBRA. Pelo fato de ser não-material, mas visível, do  ponto de vista filosófico é apropriada para a interpretação  visível das forças não-materiais como as atitudes demoníacas  e o poder do amor



MODESTO, Magda. Imagens de um passado presente: o Teatro de Sombras Asiático. Catálogo de exposição do VII Festival Espetacular de Teatro de Bonecos. Curitiba: Teatro Guaíra, 1998.


Magda Modesto foi titeriteira, professora de História do Teatro de Títeres, de Animação e de Educação através do Teatro. Também atuou como pesquisadora, colecionadora e curadora de exposições de títeres tradicionais populares (em especial Calungas e Mamulengos), e supervisora de animação de espetáculos de teatro e dança. Foi membro do Comitê Executivo da “Union Internationale de la Marionnette” (UNIMA) de 1992 a 2004. Foi vice-presidente da mesma entidade de 1992 a 1996. Presidiu a Associação Brasileira de Teatro de Bonecos Centro Unima Brasil de 1985 a 1987. Faleceu no dia 22 de abril de 2011 na cidade do Rio de Janeiro.

Reflexões e comentários de Paulo Balardim sobre o processo com alunos de artes cênicas da UDESC

Texto enviado após experiência, compartilhamento e vivência com teatro de sombras ministrada por Alexandre Fávero com o professor Paulo Balardim e os alunos da cadeira de montagem cênica do curso de teatro da UDESC.

18.05.11- Florianópolis
DIÁRIO DE BORDO
 As sombras massificam a escuridão. No vagar das formas sobre a tela iluminada busca-se estabelecer uma tensão entre a constante harmonia da simetria disposta no espaço e a diluição dos limites nos contornos projetados.
O corpo do ator ocupa o espaço claro da tela, o vazio, e ocupa,
paradoxalmente, o espaço cheio também, sobrepondo a imagem de seu corpo em disformidades negras. O ator parece buscar uma moldura para a imagem de seu próprio corpo, algo que o redefina como um novo signo. A potência da imagem está na ocupação da tela pela sombra, nessa corporeidade provocada pela dialética do iluminar-se e deixar-se envolver pela ausência da luz. O corpo humano é revelado pela luz, de um lado, e pela sombra, de outro. Mas o lado em que encontra-se a realidade é duvidoso...e essa dúvida é o numinoso. A transição entre um espaço e outro, sombra e luz, deixa transparecer a forma-coisa sublime. O tempo da geração da ideia é um tempo dilatado, no qual a expectativa vê coisas que não são realmente mostradas. Essa aproximação com um tempo outro traz a ideia do divino, um sentimento de contato com o intangível.

Paulo Balardim
É professor universitário na área de Prática Teatral - Teatro de Animação, no Centro de Artes (CEART) da Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC). Doutorando em Artes Cênicas (PPGT/UDESC), Mestre em Artes Cênicas (PPGAC/UFRGS), licenciado em Letras - Língua Portuguesa e Literatura Brasileira (ULBRA).
Como ator e diretor, trabalha com a Caixa do Elefante desde 1991, sendo um dos seus fundadores. Como cenógrafo e aderecista, já trabalhou com diversos diretores teatrais do Sul do País, tais como Dilmar MessiasCamilo de LélisNestor Monastério e Ronald Radde, entre outros.
Possui cursos de formação no Centro Latino-americano de Teatro de Bonecos (RJ-1994/1995), com Álvaro Apocalipse (Grupo Giramundo) e Oswaldo Gabrielli (Grupo XPTO), no Institut International de la Marionnette (França- 1997/1998), com Phillippe Genty e Michiko Ueno-Herr, e na Casa de las Sirenas (Espanha- 2000), com Maurício Kartun.
Como pesquisador de Teatro de Animação, lança, em 2004, o livro "Relações de Vida e Morte no Teatro de Animação", com o apoio do Institut International de la Marionnette.
Foi presidente da AGTB - Associaçao Gaúcha de Teatro de Bonecos, nos anos de 2002 e 2003, e jurado do Prêmio Tibicuera de Teatro Infantil/RS no ano de 2004.
Também participa da criação de inúmeros personagens para programas infantis televisivos, entre eles: "Pandorga" (TVE-RS), "Turma do Arrepio" (SBT) e Mundo da Leitura (Canal Futura).

5 de julho de 2011

Diário de Viagem - II Encontro de Teatro de Sombras - São Paulo/SP

O evento ocorreu em 2010 por motivo do processo de pesquisa do Grupo Sobrevento (São Paulo/SP) para ser encenada com a linguagem de teatro de sombras. Os diretores do Grupo Sobrevento promoveram algumas atividades de intercâmbio e formação para fomentar a curiosidade de artistas interessados e com isso estabelecer investigações e descobertas compartilhadas. A referência partiu do evento I Encontro de Teatro de Sombras - São Paulo/SP, realizado no ano de 2009 para investigar a linguagem do teatro de sombras. Nesta ocasião, por motivos profissionais, não foi possível a Cia Teatro Lumbra participar, mas foi citada através de comentários dos participantes e da exibição de vídeos.



[exposição do acervo da Cia Luzes e Lendas]


Na segunda edição, em 2010, por motivo da presença da Cia Teatro Lumbra no estado de São Paulo, onde participava do projeto Viagem Teatral SESI, foi possível colaborar no II Encontro de Teatro de Sombras por meio de um convite do Grupo Sobrevento e da SP Escola de Teatro (www.spescoladeteatro.org.br).


O segundo encontro, então preparatório para a fase de pesquisa do espetáculo do grupo paulistano, reuniu, no mês de novembro, vários artistas, grupos companhias e interessados no assunto. Foi uma atividade de difusão e intercâmbio que durou a tarde e parte da noite do dia 22 de novembro de 2010, onde todos os presentes partilharam de suas experiências em produções com a linguagem do teatro de sombras. Na ocasião foi listado, segundo a lembrança dos mais de 70 participantes, os nomes dos coletivos que já haviam tido algum tipo de experiência cênica com o gênero. Como as informações foram registradas com caneta em um quadro, conforme a lembrança e o histórico de cada um, talvez algumas informações estejam incompletas ou equivocadas, mas de toda forma serviu para registrar, ampliar o panorama do teatro de sombras nacional e intuir que essa linguagem ganha força como expressão cênica no Brasil conforme se percebe na lista abaixo:


A lista indica informações parciais, tais como: grupo/companhia, cidade e estado de origem, o nome de alguns integrantes e o espetáculo relacionado ao uso do teatro de sombras, seja um fragmento ou em sua totalidade. A indicação de * significa que o coletivo esteve representado no II Encontro de Teatro de Sombras São Paulo/SP no dia 22 de novembro de 2010 segundo informação da organização do evento.


-*Teatro Por Um Triz, São Paulo/SP, Márcia e Andressa Péricles
-Catibrum, Belo Horizonte/MG, Lelo Silva e Adriana Focas, Homem Voa?
-*Articularte, São Paulo/SP, Dario Urzan e Surley Valério, O valente filho da burra
-Esppiral – Corpo Criação Movimento, Claudemir, performance i jazz
-*Cia Luzes e Lendas, São Paulo/SP, Valter Valverde, Cristhian Lins, Lorenço Silva(?), repertório exclusivamente de sombras
-Capim Capivara, Campinas/SP
-Trup Trolhas, Paulo Caverna e Lilian Guerra, performance de luzes
-Trecos e Cacarecos, Mulan
-Dragão Amarelo, Zhé Gomes
-*Pia Fraus, São Paulo/SP, Beto Andretta e Cia Teatro Lumbra, Primeiras Rosas
-*Cia Quase Cinema, São Paulo/SP, Ronaldo Robles e Silvia (?), repertório e performances de sombras
-Mão na Luva, J.E. Tico e Giuliana, América, fragmentos
-Companhia-Companhia, S. Bernardo dos Campos e Diadema/SP, Lurdes
-A Caixa do Elefante, Porto Alegre/RS, Mário de Ballentti e Paulo Balardim, O Cavaleiro da Mão de Fogo
-Muita Luz em Pouco Pano, Valmir, oficinas para jovens e adultos
-Cia Arte das Sombras
-O Casulo, São Paulo/SP, Ana Maria Amaral e Dinho Del Puente, Dicotomias(?)
-KaragowzK, Curitiba/PR, Marcello Santos, repertório com sombras
-Atlântica Cia de Teatro
-Unidos pela Cara de Pau
-Cia Fios de Sombras, Campinas/SP, Rafael Curci, Paloma Barreto e Lucas Rodrigues, Anjo de Papel
-Pequod, Rio de Janeiro/RJ, Miguel Vellinho
-Me vi tevendo, Cleber Laguna e Márcia Fernandes
-Teatro Lambe-lambe, Denise e Ismine
-Navegando, Lucia Coelho e Marcelo
-Cia Capadócia
-Girinos, Belo Horizonte/MG
-Infantocatas, Gin e Celso Ohi, vídeos abstratos
-*Cia Teatro Lumbra, Porto Alegre/RS, Alexandre Fávero, Flávio Silveira, Fabiana Bigarella e Roger Mothcy, repertório de teatro de sombras e performances
-Grupo Sobrevento, São Paulo/SP, Luiz André Cherubini e Sandra Vargas, espetáculo em processo


Outros coletivos citados
-Oani, Vinha Del Mar, Chile, caixinhas de imagens
-Fiat Lux, Argentina


Breve relato do II Encontro de Teatro de Sombras
22 de novembro de 2010 São Paulo/SP - Espaço Sobrevento.


Neste encontro os organizadores do Grupo Sobrevento, coordenado pelo diretor Luiz André Cherubini, apresentaram seus conceitos para a nova montagem e utilizaram um data show para projetar alguns vídeos de teatro de sombras chinesas tradicional, ilustrando aos presentes como é executado esta técnica oriental. Assunto que interessa ao grupo pesquisar e que os motivou, através da parceria com a SP Escola de Teatro, a trazer o mestre chinês Liang Jun (diretor da Cia. de Arte Popular de Shaanxi, fundada em 1953. A companhia chinesa reúne mais de 100 artistas, manipuladores, artesãos e técnicos e é conhecida, especialmente, por seu teatro de sombras, que costuma ser apontado como o melhor do país. Sediada na cidade de Xian – conhecida como o berço da cultura chinesa e lugar de nascimento do teatro de sombras – a companhia é o único grupo profissional de âmbito provincial na China. Liang Jun é oficialmente reconhecido pelo governo chinês como mestre de sua arte, privilégio de raros artistas de seu país) para assessorar tecnicamente a produção do espetáculo “A Cortina da Babá”. O diretor André Luiz apresentou também algumas delicadas silhuetas em couro, de procedência chinesa e que fazem parte do acervo de pesquisa do grupo. Algumas dessas peças possuem mais de 30 anos e permanecem muito bem conservadas. André Luiz aproveitou para divulgar a abertura das inscrições  para a oficina aberta com o mestre chinês, prevista para janeiro e fevereiro.


Posteriormente foi feito um contato, via videoconferência, com a sombrista argentina radicada em Barcelona, na Espanha, Valéria Guglietti (autora e atriz do espetáculo solo “No toquen mis manos”). Valéria fez um rápido bate-papo com André, falando sobre as particularidades do seu trabalho que utiliza a técnica de sombras com as mãos. Essa técnica é conhecida como uma brincadeira que quase toda criança ou adulto já experimentou ou viu e atualmente é muito difundida pelos mágicos internacionais como um número de prestidigitação. Valéria comentou sobre a exigência técnica desse trabalho de solista que se fundamenta na prática e no treinamento com as mãos (segundo informações, parte da sua habilidade provém de aulas de piano que fez quando criança). Seu espetáculo já participou da programação de alguns festivais brasileiros e utiliza um refletor fixo onde a atriz, de forma aparente, faz pequenos números sem texto na frente do refletor apontado para uma tela suspensa. A conversa foi animada e possibilitou, através da tecnologia da conectividade via internet, a presença virtual da artista internacional no evento exclusivamente nacional. 


[Compartilhamento entre as Cias Lumbra e Luzes e Lendas]  


A Cia Teatro Lumbra, como 
convidada do encontro, levou alguns álbuns de fotografias, silhuetas do espetáculo A Salamanca do Jarau, refletores de teatro de sombras e material gráfico. O diretor Alexandre Fávero conversou com os presentes sobre os conceitos que norteiam as montagens e a dramaturgia pesquisa pela Cia Teatro Lumbra. Depois do bate papo foi feita uma demonstração com projeções de algumas dessas silhuetas do acervo do espetáculo.



Na seqüência o diretor e artista plástico Ronaldo Robles e a atriz e iluminadora Silvia Godoy, da Cia Quase Cinema, de São Paulo/SP (http://www.ciaquasecinema.com) conversaram sobre seus processos e a pesquisa para a produção do espetáculo Ubu (inspirado na obra Ubu Rei, do dramaturgo francês Alfred Jarry). Apresentaram também uma cena que faz parte de um espetáculo do repertório, usando a sombra corporal e recursos de efeitos com silhuetas projetados em uma tela vertical. Em outra tela realizaram uma pequena cena de improviso com refletores móveis utilizando fontes de LED ampliando as sombras de brinquedos, objetos e a silhueta de um personagem em pequenos cenários. Essa demonstração apresentou as relações espaciais dos objetos e do personagem dentro do cenário através do ponto de vista do foco luminoso. Os efeitos causaram a impressão de tridimensionalidade espacial conforme o movimento do foco e a intenção na cena. Todas as demonstrações utilizaram trilha sonora sendo que essa última apresentava falas curtas.


As atrizes do grupo Teatro Por um Triz realizaram uma demonstração encenando um fragmento de um espetáculo do seu repertório. A cena apresentava um foco fixo e silhuetas criadas para ilustrar ações onde as surpresas aconteciam conforme se presenciavam as ilusões visuais com a manipulação dessas figuras. 


Durante o intervalo do café os sombristas da Cia Luzes e Lendas – São Paulo/SP aproveitaram para uma conversa informal com os integrantes da Cia Teatro Lumbra para conhecer um pouco mais de perto o material de cena e os projetos futuros das companhias. Momento importante de troca e compartilhamento.




[Roger Mothcy, Cristhian Lins, Fabiana Bigarella, Alexandre Fávero e Valter Valverde]


Também foi realizada uma performance no hall de entrada do espaço com uma atriz realizando uma coreografia em uma escada enquanto um músico realizava a trilha sonora ao vivo.


Além dos bate-papos o evento serviu para reforçar a importância do artista das sombras Valter Valverde, da Cia Luzes e Lendas, nos processos de pesquisa e assessoria cênica, onde colaborou com diferentes produções e encenações. Valter tem trabalhado durante muitos anos com a linguagem das sombras na cidade de São Paulo e é uma referência local para os artistas e curiosos que investem nesse gênero. Nesta última parte do encontro o sombrista Valter, junto com seus colegas, Cristhian Lins e Lourenço Amaral, encenaram histórias em sombras com diferentes técnicas em pequenos formatos. O público presente se emocionou com a simplicidade e sensibilidade das histórias do repertório da companhia. Segundo o relato emocionado do Valter após o forte aplauso dos presentes, parte desses trabalhos percorre escolas e hospitais e esse é o encanto que inspira os artistas da Cia Luzes e Lendas a continuar levando o teatro de sombras nas salas de aula ou no quarto dos hospitais. Realmente emocionante e motivador.
Vários artistas e diretores influenciados e atendidos pelo colega Valter fizeram seus depoimentos. O diretor Dario Urzan, da Cia Articularte, de São Paulo/SP foi um dos que agradeceu a generosidade do Valter na colaboração que fez durante a produção do espetáculo O Valente Filha da Burra.




[apresentações da Cia Luzes e Lendas e homenagens para Valter Valverde]


Por fim, o encontro alcançou um objetivo importante, que é o intercâmbio de informações entre artistas em um espaço aconchegante e adequado ao compartilhamento.


O II Encontro de Teatro de Sombras - São Paulo/SP aconteceu graças ao esforço do Grupo Sobrevento em parceria com a SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.


Release de divulgação do evento com informações sobre os participantes: 


O Grupo Sobrevento realiza uma mesa de discussão com o tema “Teatro de Sombras”, em sua sede, na Zona Leste de São Paulo. O encontro que será realizado na segunda-feira (22/11/2010), das 17h às 22h, reúne Alexandre Fávero e Ronaldo Robles, dois dos maiores expoentes brasileiros do Teatro de Sombras. No decorrer da noite, os convidados vão mostrar experiências e resultados de pesquisas, na forma de palestras e apresentações de cenas, mediados por Luiz André Cherubini e Sandra Vargas, fundadores do Grupo Sobrevento e, ao final, será aberto espaço para outros artistas e público exporem os seus trabalhos, considerações e dúvidas. Em dezembro de 2009, o Espaço Sobrevento reuniu cerca de 20 especialistas brasileiros em Teatro de Sombras da cidade de São Paulo, em um encontro onde foram discutidas questões técnicas e estéticas específicas desta linguagem. Este ano, com o apoio da SP Escola de Teatro, a mesa de discussão “Teatro de Sombras” tem o intuito de ampliar os conhecimentos e multiplicar experiências com o teatro de animação, em um modo diferente de fazer com que artistas formem artistas.


Conheça os currículos dos participantes:


ALEXANDRE FÁVERO é cenógrafo, diretor, pesquisador, encenador, ator, sombrista, diretor de arte, produtor, aderecista, bonequeiro e cenotécnico. É fundador da Companhia Teatro Lumbra de Animação, do Clube da Sombra Criações e Produções Artísticas e da Carta Zero Produtora de Arte. Dirige os projetos artísticos da Cia. Teatro Lumbra de Animação, onde realiza pesquisas e experimentações no teatro de animação (Sombraterapia, vivências expressivas, performances); montando espetáculos como experimento “Transapiens”, “Sombrurbanas”, “Sombrazilis” e outro projetos; dirige vídeos promocionais, ministra cursos e realiza vivências teatrais para artistas, educadores e empresas. Desenvolve experiências criativas e originais utilizando curiosas ferramentas cênicas (Bolha Luminosa) e a dramaturgia do teatro de animação, onde funde os conceitos transversais da arte com a ciência, a cultura popular, a filosofia, a psicologia e o sobrenatural. Além de representar o Brasil em festivais internacionais, desenvolver pesquisas de linguagem e da estética da arte, criar e produzir novos projetos e colaborar para a difusão da arte do teatro de animação, dedica-se a escrever um livro sobre a linguagem das sombras e dirige o portal dinâmico da arte do teatro de sombras, o Clube da Sombra, onde é editor do informativo eletrônico Sombrazine e de artigos sobre a estética da arte.


CIA TEATRO LUMBRA, criada e coordenada pelo pesquisador, cenógrafo e ator/bonequeiro Alexandre Fávero, desde o ano de 2000, a Cia. desenvolve a pesquisa e o experimentalismo avançado da dramaturgia do teatro de animação. As montagens de espetáculos da Companhia e seus projetos de difusão são sempre associados aos temas da cultura brasileira e ao experimentalismo das linguagens expressivas dos mais distintos gêneros do teatro de animação. O resultado dessas atividades teatrais promovidas e desenvolvidas pela Companhia Teatro Lumbra, nas inúmeras temporadas e participações em festivais do gênero, têm possibilitado uma abrangência cada vez maior e mais expressiva de público e também nos mais diferentes meios de comunicação e mídias. Nessa dinâmica de criar e desconstruir conceitos nas suas obras de arte, a Companhia tem aperfeiçoado suas tecnologias alternativas e seu método de trabalho artesanal, transformando ideias em espetáculos, realizando cursos de teatro de animação, projetando sombras nas telas de cinema, realizando filmes, vídeos, shows musicais e demonstrações, prestando assessorias e, principalmente, ousando nas novas experiências.


RONALDO ROBLES é formado em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, antropólogo, artista plástico, ator e diretor, participou de várias exposições de artes, integrou o Napedra, núcleo de antropologia do drama e da performance FFLCH/USP. Atualmente, dirige, escreve e atua nos trabalhos da Companhia Quase Cinema, dando especial tratamento para a pesquisa imagética e simbólica das sombras e a construção de uma dramaturgia da imagem.


O ESPAÇO SOBREVENTO Inaugurado em junho de 2009, é o único espaço da cidade especialmente dedicado ao Teatro de Bonecos. Mais que uma simples oficina, abriga uma sala de espetáculos, uma biblioteca e uma videoteca especializadas em Teatro de Bonecos, além de um espaço de confecção, treinamento e aperfeiçoamento para marionetistas. O Espaço Sobrevento já abrigou os espetáculos “Bailarina”, “O Anjo e a Princesa”, “Mozart Moments”, “Cadê o Meu Herói?”, “O Copo de Leite”, “O Cabaré dos Quase-Vivos”, “Submundo” e “Orlando Furioso”, todos do Grupo Sobrevento, além de diferentes espetáculos estrangeiros: “Suspended Animation”, do norte-americano Phillip Huber (marionetista do filme “Quero Ser John Malkovich”); o “Teatro de Sombras Chinesas”, da Cia. de Teatro de Sombras de Tangshan, uma das mais destacadas da China; “As Máquinas para o Teatro Inconsciente”, da Cia. La Voce delle Cose, especializada em Teatro de Objetos, da Itália; e o espetáculo “Anda!”, da Cia. La Casa Incierta, da Espanha, especializada em Teatro para Bebês. E também recebeu os espetáculos “O Cavaleiro da Triste Figura”, da Cia. Catibrum, de Minas Gerais; “História de Bar”, da Cia. Truks; “Sonhos de uma Noite de Verão”, do Núcleo N3, que reúne três companhias de Teatro de Animação paulistanas; “Histórias de Amar”, do Grupo Salamandra; “Mulheres”, do Núcleo Trecos e Cacarecos; a pré-estreia de “Só Sonho Samba”, da Cia. Bonecos Urbanos; a “Mostra Memória e Identidade”, da Cia. As Graças; além da pré-estreia do espetáculo “A Criatura”, do Núcleo N3, atraindo cerca de 20 mil espectadores.


LUIZ ANDRÉ CHERUBINI, fundador e diretor do Grupo Sobrevento, uma das companhias teatrais brasileiras de maior renome internacional, é especialista em teatro de animação. Com conhecimento de diferentes técnicas e manifestações culturais do mundo todo ele já se apresentou em mais de 150 cidades do Brasil e também em países como na Espanha, Irlanda, Escócia, Irã, Angola, Colômbia, Chile e Argentina. No Brasil, organiza e dirige festivais, como SESI Bonecos e Riocenacontemporânea. Foi professor de teatro de animação da ECA/USP e ministrou cursos na Universidad Catolicá Blas Canas, Universidad Finisterrae e Muso Del Titere, três instituições chilenas, além de oficinas no Brasil e em outros países. Bacharel em Artes Cênicas, com habilitação em Interpretação Teatral pela Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio).


SANDRA VARGAS é uma das fundadoras do Grupo Sobrevento, um dos mais importantes Grupos de Teatro do País. Foi indicada, em 1989, como Melhor Atriz e Revelação de Melhor Atriz para os Prêmios Mambembe e Coca-Cola. Em 2000, ganhou o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (Apca) de Melhor Atriz. Trabalha como atriz e manipuladora em todos os espetáculos do Grupo Sobrevento e organizou a Mostra Internacional de Teatro de Animação Rio Bonecos 92 (no Centro Cultural Banco do Brasil) e a Mostra Maria Mazzetti de Teatro de Bonecos 95 (no Teatro Ziembinski), em 1996.


(Informações retiradas do site da SP Escola de Teatro)


[imagens do acervo da Cia Luzes e Lendas e retiradas do blog da companhia teatrodesombraseafins.blogspot.com]